As cinco mesas temáticas que reuniram 15 nomes de referência na literatura e na academia, no terceiro e último dia de programação do 1º Festival Literário Internacional da Paraíba (FliParaíba), celebraram interculturalidades, sabenças indígenas e africanas e territórios da palavra. O dia seguiu também com lançamentos de livros e estandes de diversas livrarias e editoras.
O FliParaíba foi realizado pelo Governo da Paraíba em parceria com a Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA), e teve como tema “Camões 500 anos - uma nova cidadania da língua”. O evento aconteceu no Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa, de quinta-feira (28) até este sábado (30).
Participante na mesa “Superação e Resiliência – celebração em literatura: resiliência e territorialidade”, o escritor radicado na Paraíba, Bruno Ribeiro, afirmou que, para ele, “a literatura tem que ser uma ferramenta de ataque. Quando eu comecei a escrever, os autores que eu gosto de ler partem desse pressuposto. É uma arte que permite com que você lide com as dores históricas. É uma forma de curar essas dores, porque eu acho que essas dores nunca vão deixar de existir. Elas estão lá. E a literatura tem esse papel de fazer com que a gente se lembre delas e lide com elas. Então, ela parte dessa ideia para mim. De ser um ataque, de ser uma arma contra instituições, contra a colonização, contra o racismo”.
Na mesma mesa, o angolano António Quino falou da importância da ancestralidade e do respeito à língua, e de como cada um tem uma missão, sendo a língua um agente de comunicação que nos ajuda nesse processo. "Cada um de nós é um ser físico que representa e corporiza a sua comunidade o seu país, a sua religião, o seu povo, mas também representa a si. E cada um de nós é ao mesmo tempo consciente ou inconscientemente, uma entidade espiritual. Cada um tem em si corporizados os seus ancestrais e por isso temos a obrigação de cumprir uma missão que as vezes foge nossa compreensão".
Trudruá Dorrico, escritora premiada e doutora em teoria da literatura, que participou da mesa “Herança e memória – presenças e sabenças indígenas e africanas na literatura”, ponderou que “existe uma expressão no Brasil de que os povos indígenas e africanos contribuíram, então são uma lembrança, uma herança para a constituição do Brasil. Mas essa ideia implica que povos indígenas e africanos ficaram no passado. E aí o que é lembrado de nós? Comida, trajes típicos. Então a ideia da presença é pensar por meio da literatura, dessa autoria, dos livros, das histórias dos personagens, que os indígenas estão aqui no Brasil tanto por um reconhecimento de povos, de línguas, de identidades, que constituem um país plurinacional, plurilinguístico e não mais uma cidadania”.
Trudruá disse ainda que “o que a gente falou um pouco foi isso, a presença indígena, a presença da literatura africana, entrar nesses espaços culturais, nos espaços acadêmicos, para lembrar que povos indígenas e povos descendentes de arte estão presentes, eles não constituíram o país, não contribuíram para essa herança e ficaram no passado, mas ainda estamos construindo esse país”.
O poeta cabo-verdiano José Luís Tavares ressaltou a importância da língua para a identidade de cada país, e lembra a luta dos países como Angola e Cabo Verde pela soberania de suas língua nacionais: "Nós temos um território vasto. Portanto não há uma única língua. É claro que o português é o elo que liga esses territórios, mas ele também pode ser um fator de divisão, como é no nosso país, porque o português não tem sabido conviver com quer as línguas que nasceram do português, que são resultados de um processo histórico, quer as línguas nacionais e dos povos que lá estavam". E concluiu fazendo uma chamada pela diversidade: "Hoje cada um vai fabricando, vai inventando processo de interiorizar, de tornar coisa própria a língua portuguesa, através da música, da literatura e das outras formas de conhecimento, sem imposições extemporâneas e anacrônicas em termos históricos".
Sensação
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